sábado, 3 de setembro de 2011

Segurança pública no Rio de Janeiro

Natássia Lima
A violência é um dos temas que mais preocupam os brasileiros. E não é difícil entender o porquê.  O país registra estatísticas de homicídios comparáveis às nações em guerra e está no terceiro grupo dos maiores exportadores de armas do mundo. Além disso, é o segundo maior setor de movimentação econômica do planeta (perdendo apenas para o petróleo), o tráfico de drogas também tem sido um dos grandes responsáveis pelo aumento da violência no Rio de Janeiro nos últimos anos.
Para o entrevistado Marcus Ávila, teólogo e historiador, recém-aprovado no concurso da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que faz um estudo sobre a Segurança Pública, o tema deve ser debatido com seriedade pelos governantes, e principalmente medidas preventivas devem ser adotadas.

Duo Postal: Qual a sua impressão da Segurança Pública no Estado do Rio?

Marcus Ávila: Eu tenho uma péssima impressão. E tudo começa com os péssimos salários pagos aos policiais. Para se ter uma idéia, R$ 800,00 é o piso salarial de um policial no Rio. Dá para fazer segurança com isso? É necessário acontecer uma reforma da segurança pública para proteger a vida da comunidade e do policial, que tem que trabalhar e depois fazer bico em festa.

Duo Postal: Qual é a relação entre segurança pública e direitos humanos?

Marcus Ávila: O Rio é um exemplo de que a segurança pública tem prioridade sobre os direitos humanos. A polícia com frequência usa a força contra pessoas que moram nas favelas e poucas providências têm sido tomadas em relação a isso.

Duo Postal: O que aconteceu para que a situação chegasse a esse ponto?

 Marcus Ávila: Alguns falam em impunidade, outros na ausência do poder público e há ainda os que responsabilizam a polícia, destacando o fato de que está desaparelhada, maltreinada, despreparada para enfrentar os traficantes.

Duo Postal: As Unidades de Polícia Pacificadora podem mudar essa realidade?

Marcus Ávila: Ainda considero que é cedo para avaliar. A experiência é recente e o problema não vai ser resolvido só com UPPs. É preciso uma transformação da polícia e a integração de suas forças. Já é um bom começo, mas ainda não vai resolver o problema dos abusos e da violência policial contra pobres, afrodescendentes e moradores de favela.

Duo Postal: Como você acredita que a atual presidente vai tratar do assunto?

Marcus Ávila: Quando a presidente Dilma Rousseff ainda era candidata, quase não se pronunciou sobre isso, ou quando falava, era de forma genérica, mencionando uma ou outra possível iniciativa, como o controle das fronteiras e a expansão das UPPs. Não foi apresentado um plano nacional de segurança pública com amplitude e especificações técnicas. Não é bom antecipar juízos, mas, infelizmente, tudo indica que vamos continuar convivendo com esse modelo de segurança atual em que pouca responsabilidade é conferida à União.

Duo Postal: E qual o papel do governo federal?

Marcus Ávila: O governo federal deve ajudar a envolver municípios no combate à violência tomando a frente no trabalho de inteligência e mapeando os problemas regionais. O combate tem que ser específico para cada tipo de região e por isso mesmo tem que haver diagnóstico.

Duo Postal: Em sua opinião, quais são as causas da deficiência da Segurança Pública?

Marcus Ávila: Entre as causas dessa deficiência estão o aumento do crime, do sentimento de insegurança, de impunidade e o reconhecimento de que o Estado, apesar de estar obrigado constitucionalmente a oferecer um serviço de segurança básico, não atende sequer, as mínimas necessidades específicas de segurança que formam a demanda exigida pelo mercado.

Duo Postal: Com os recentes acontecimentos, onde a segurança pública tem sido colocada em debate, como você acredita que esse quadro possa ser modificado?

Marcus Ávila: Os problemas relacionados com o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, são fatos que se arrastam de outros tempos. Resumindo, os novos gestores da segurança (não apenas policiais, promotores, juízes e burocratas da administração pública) devem enfrentar estes desafios, além de fazer com que o amplo debate nacional sobre o tema transforme-se em real controle sobre as políticas de segurança e, mais ainda, estimule a parceria entre órgãos do poder público e sociedade civil na luta por segurança e qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.

Duo Postal: Você passou na prova da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Qual a sua expectativa em relação ao exercício dessa profissão?

Marcus Ávila: Apesar de fazer duras críticas ao sistema, eu ainda acredito nele. Não adianta fecharmos os olhos e fingir que está tudo bem, porque não está! E eu estou consciente de tudo o que posso enfrentar, mas mesmo assim eu decidi que quero contribuir de alguma forma para a mudança desse quadro. E a minha maior expectativa é que um dia essa profissão tão nobre possa ser mais valorizada.

13 comentários:

  1. ótima entrevista, faz com que reflitamos sobre como lidamos e aceitamos como o poder público lida com a violência no geral.
    abs

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  2. Legal a entrevista. Infelizmente a política de segurança pública no Rio de Janeiro não é um símbolo de eficiência. Também não é exemplo em outros estados, principalmente os do Nordeste que nos último anos tiveram suas taxas de crimes aumentadas e muito por políticas equivocadas de segurança pública.
    Infelizmente existe no jornalismo um certo engajamento de não mostrar bons exemplos de políticas públicas, como a Polícia de São Paulo, que embora ainda tenha deficiências a sanar, já tem orgãos específicos para coibir a ação de alguns policiais ruins e também conseguiu a façanha de diminuir o índice de homicídios no estado de maneira fabulosa nos últimos 10 anos.

    http://123acao.wordpress.com

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  3. A entrevista é interessante e me lembrar que há poucos dias deu uma entrevista num jornal local do rio grande do sul, que meu estado era um dos com maiores indices de homofobia, o que se remete a violência, isso mostra que a violência publica do rio grande do sul também está deixando muito a desejar, como no rio de janeiro. Vejo todos os dias na televisão, a policia tentando pacificar as favelas, e muitas vezes dizem que conseguem, devem conseguir, e se sentem safisfeitos com isso e param, o que não deveriam fazer, que se conseguiram em uma devem tentar conseguir nas outras cem ou mais. Mas eles ficam se vangloriando de uma só conquista quando se deveriam conquistar outras. O problema além do pouco salário é a vaidade dos policiais que se contentam com poucas conquistas.
    http://lollyoliver.wordpress.com/

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  4. Pois é, mas não acredito em muita segurança no Rio não :x http://apaixonadasporcosmeticos.blogspot.com
    Curta o Facebook de Apaixonadas por Cosméticos
    @Ap_Cosmeticos(:

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  5. entrevista ficou bom...pelo salarios que os policias ganham a segurança esta ruim em todo brasil...isso sim e verdade...

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  6. Eu adoro o Rio e acho que a segurança não só lá mas em qualquer cidade do Brasil deve ser avaliada com cuidado e ser prioridade entre as autoridades.

    passa lá?
    http://uaimeu10.blogspot.com/

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  7. A entrevista ficou muito boa, abordando um tema bem delicado :) Ainda mais quando se trata do Rio. Enfim, parabéns :)

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  8. Pois é e hoje teve um ataque nas favelas do Alemão... incrivel isso!
    Fui ao Rio algumas vezes nunca vi nada lá.
    Mas tbm depende do lugar que vc fica
    Retribuindo a visita
    Abraços

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  9. Nossa.. ótima entrevistaaa =) Muiiiiito boooaaa *-*

    Dá uma passadinha lá, vaai gostaar *-*

    http://echidellanima.blogspot.com/
    Beeijos *-*

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  10. Ótima entrevista...
    Difícil encontrar blogs tão interessante como esse por ai....Seguindo

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  11. Muito boa a entrevista. É lamentável ver a situação em que o nosso país, de forma geral, se apresenta!

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  12. Está na hora de um basta neste problema que parece não ter fim. Enquanto governador, Moreira Franco conseguiu ao menos diminuir a criminalidade em Niterói, equipando os policiais com novas viaturas e reformando delegacias, inclusive a de Entorpecentes. Ou seja, dê condições aos policiais para que possam combater o crime.

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