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sábado, 8 de outubro de 2011

Poesia como alimento para a alma

O poeta Fabiano Silmes

Marcelo Mesquita

            Na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, o poeta Fabiano Silmes nos brindou com o lançamento de seu primeiro livro de poesia, intitulado Comida para Bicho-Cabeça (Editora Multifoco, 2011). Aos 13 anos, Fabiano já gostava e lia alguns pensamentos de John Lennon, Mahatma Gandhi, Oscar Wilde, entre outros. A partir dos 15, quando conheceu a poesia de Manuel Bandeira, não parou mais de escrever. Além disso, a música também teve uma forte influência em sua vida poética.
            E foi num lugar descontraído, ao som de chorinho e ao sabor de um bom vinho, que o poeta recebeu os amigos e concedeu uma entrevista ao Duo Postal. Entre tantas coisas, Fabiano nos conta sobre o início de sua carreira e de seus projetos culturais para o futuro.

Duo Postal: Quando foi que começou seu gosto por poesia?

Fabiano Silmes: Meu gosto por poesia começou quando conheci Manuel Bandeira. Eu acho que foi um divisor de águas, pois até então eu tinha uma visão equivocada mesmo da poesia. Achava muito formal e o Bandeira veio desconstruindo essa imagem, me mostrou uma poesia extremamente fácil, agradabilíssima, porém profunda.

Duo Postal: A música teve um papel importante em sua vida literária?

Fabiano Silmes: Eu comecei a perceber mais a poesia através da música. Grupos como Legião Urbana, The Doors, Cazuza, Titãs, entre outros. Foi devido a eles que pude notar a musicalidade das palavras e a vida que elas têm.

Duo Postal: Como foi o processo para escolher quais poesias entrariam no seu livro?

Fabiano Silmes: Confesso que foi um processo bem difícil. Eu procurei selecionar em duas partes. Para o meu primeiro livro, venho com uma poesia mais sentida, menos densa. Meu segundo vai condensar tudo que foi elaborado no primeiro. Grandes poetas amigos meus contribuíram muito para o meu caminhar, como Rômulo Narducci, Emanuel de Jesus, sempre deram opinião e fui selecionando a partir do conceito de todos.

Fabiano Silmes autografa seu livro Comida para bicho-cabeça
Duo Postal: Qual é a sensação, depois de tanto tempo escrevendo, e agora estar concretizando em livro seus escritos?

Fabiano Silmes: É uma realização. As poesias precisavam de uma casa para abrigá-las. Creio que foi uma realização tanto para mim, como poeta, quanto para as minhas poesias, como forma livre de pensamento. É como dar vida às poesias.

Duo Postal: Que tipo de projetos você ainda pretende trabalhar?

Fabiano Silmes: Estou escrevendo um livro de crônicas. Estou com um curta-metragem em andamento que escrevi em parceria com o cineasta Vitor Hugo e mais para frente, quero trabalhar com teatro também.

Duo Postal: O que o leitor pode esperar de seus próximos trabalhos?

Fabiano Silmes: Densidade. À medida que o tempo vai passando, eu vou tendo uma visão mais densa e vou construindo sobre o alicerce que está sendo esse primeiro livro.

Duo Postal: Como você define o Comida para Bicho-Cabeça?

Fabiano Silmes: O alimento para as almas.
Fotos: Marcelo Mesquita

sábado, 3 de setembro de 2011

Segurança pública no Rio de Janeiro

Natássia Lima
A violência é um dos temas que mais preocupam os brasileiros. E não é difícil entender o porquê.  O país registra estatísticas de homicídios comparáveis às nações em guerra e está no terceiro grupo dos maiores exportadores de armas do mundo. Além disso, é o segundo maior setor de movimentação econômica do planeta (perdendo apenas para o petróleo), o tráfico de drogas também tem sido um dos grandes responsáveis pelo aumento da violência no Rio de Janeiro nos últimos anos.
Para o entrevistado Marcus Ávila, teólogo e historiador, recém-aprovado no concurso da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que faz um estudo sobre a Segurança Pública, o tema deve ser debatido com seriedade pelos governantes, e principalmente medidas preventivas devem ser adotadas.

Duo Postal: Qual a sua impressão da Segurança Pública no Estado do Rio?

Marcus Ávila: Eu tenho uma péssima impressão. E tudo começa com os péssimos salários pagos aos policiais. Para se ter uma idéia, R$ 800,00 é o piso salarial de um policial no Rio. Dá para fazer segurança com isso? É necessário acontecer uma reforma da segurança pública para proteger a vida da comunidade e do policial, que tem que trabalhar e depois fazer bico em festa.

Duo Postal: Qual é a relação entre segurança pública e direitos humanos?

Marcus Ávila: O Rio é um exemplo de que a segurança pública tem prioridade sobre os direitos humanos. A polícia com frequência usa a força contra pessoas que moram nas favelas e poucas providências têm sido tomadas em relação a isso.

Duo Postal: O que aconteceu para que a situação chegasse a esse ponto?

 Marcus Ávila: Alguns falam em impunidade, outros na ausência do poder público e há ainda os que responsabilizam a polícia, destacando o fato de que está desaparelhada, maltreinada, despreparada para enfrentar os traficantes.

Duo Postal: As Unidades de Polícia Pacificadora podem mudar essa realidade?

Marcus Ávila: Ainda considero que é cedo para avaliar. A experiência é recente e o problema não vai ser resolvido só com UPPs. É preciso uma transformação da polícia e a integração de suas forças. Já é um bom começo, mas ainda não vai resolver o problema dos abusos e da violência policial contra pobres, afrodescendentes e moradores de favela.

Duo Postal: Como você acredita que a atual presidente vai tratar do assunto?

Marcus Ávila: Quando a presidente Dilma Rousseff ainda era candidata, quase não se pronunciou sobre isso, ou quando falava, era de forma genérica, mencionando uma ou outra possível iniciativa, como o controle das fronteiras e a expansão das UPPs. Não foi apresentado um plano nacional de segurança pública com amplitude e especificações técnicas. Não é bom antecipar juízos, mas, infelizmente, tudo indica que vamos continuar convivendo com esse modelo de segurança atual em que pouca responsabilidade é conferida à União.

Duo Postal: E qual o papel do governo federal?

Marcus Ávila: O governo federal deve ajudar a envolver municípios no combate à violência tomando a frente no trabalho de inteligência e mapeando os problemas regionais. O combate tem que ser específico para cada tipo de região e por isso mesmo tem que haver diagnóstico.

Duo Postal: Em sua opinião, quais são as causas da deficiência da Segurança Pública?

Marcus Ávila: Entre as causas dessa deficiência estão o aumento do crime, do sentimento de insegurança, de impunidade e o reconhecimento de que o Estado, apesar de estar obrigado constitucionalmente a oferecer um serviço de segurança básico, não atende sequer, as mínimas necessidades específicas de segurança que formam a demanda exigida pelo mercado.

Duo Postal: Com os recentes acontecimentos, onde a segurança pública tem sido colocada em debate, como você acredita que esse quadro possa ser modificado?

Marcus Ávila: Os problemas relacionados com o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, são fatos que se arrastam de outros tempos. Resumindo, os novos gestores da segurança (não apenas policiais, promotores, juízes e burocratas da administração pública) devem enfrentar estes desafios, além de fazer com que o amplo debate nacional sobre o tema transforme-se em real controle sobre as políticas de segurança e, mais ainda, estimule a parceria entre órgãos do poder público e sociedade civil na luta por segurança e qualidade de vida dos cidadãos brasileiros.

Duo Postal: Você passou na prova da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Qual a sua expectativa em relação ao exercício dessa profissão?

Marcus Ávila: Apesar de fazer duras críticas ao sistema, eu ainda acredito nele. Não adianta fecharmos os olhos e fingir que está tudo bem, porque não está! E eu estou consciente de tudo o que posso enfrentar, mas mesmo assim eu decidi que quero contribuir de alguma forma para a mudança desse quadro. E a minha maior expectativa é que um dia essa profissão tão nobre possa ser mais valorizada.

sábado, 30 de julho de 2011

O humor em Stand up Comedy

O humorista Paulo Vinnicius
Marcelo Mesquita

Ele é sem dúvida um dos maiores comediantes do Brasil. Também com seus dois metros de altura, os outros são todos pequeninos perto dele. Esse é Paulo Vinnicius que desde 2008, quando fez um curso de teatro de formação básica de 10 meses na UFF, com Cecília Vaz, percebeu que com suas piadas o humor ia ser um sucesso em sua vida. Paulo foi indicado a fazer um curso de Stand up Comedy ministrado na época pelo ator e comediante Fábio Porchat, ator e redator da Rede Globo e um dos pioneiros do estilo de comédia no Rio de Janeiro. Desde então, Paulo Vinnicius não parou mais e fundou com alguns amigos o grupo Doida Comédia Stand up, que apesar de fazer humor, também faz um trabalho sério.

Duo Postal: Você ainda faz parte do Doida Comédia? Como é a convivência de vocês?

Paulo Vinnicius: Faço sim, na realidade eu sou integrante fundador do grupo. A convivência não é fácil, mas também não é ruim. Quando convidei os atuais integrantes para serem parte do grupo Doida Comédia Stand up, eu lhes entreguei a responsabilidade da sociedade. Não quero nada para mim, não quero ser dono de um grupo como a gente vê por aí. E justamente por todos terem opiniões de peso, a coisa às vezes esquenta, mas acredito que seja exatamente isso que tem feito o grupo Doida Comédia crescer com tamanha velocidade. Essa questão da convivência é muito importante de ser trabalhada, estamos sempre discutindo, mas sempre procurando nos entender porque todos os negócios passam por isso, seja uma empresa, um grupo musical ou um grupo de humor. É preciso ter maturidade para levar essa questão a sério e fazer um bom trabalho.

Duo Postal: Você também trabalha fazendo imitações?

Paulo Vinnicius: Não, infelizmente não. Eu brinco de fazer a pior imitação do Sílvio Santos ou Zé Colméia e Catatau, Fred e Barney, mas essas são vozes que qualquer pessoa consegue fazer. Eu não tenho esse dom.

Duo Postal: Quando foi que você percebeu que o estilo stand up comedy ia funcionar?
Paulo Vinnicius: Às vezes não funciona, (risos). Mas esse é o jogo. O stand up comedy é um estilo de humor muitíssimo recente no Brasil, há centenas de pessoas que entram em um teatro para assistir os melhores comediantes Stand up do Brasil sem saber exatamente o que vão assistir. Sabem apenas que é algo de humor. O sucesso desse estilo é que as pessoas de um modo geral estavam gritando por um humor mais ácido, algo mais crítico e menos besteirol. Fui indicado por uma professora de teatro a fazer um curso com Fábio Porchat sobre stand up comedy, me apaixonei, e entrei com tudo para me desenvolver nisso.

Duo Postal: O Brasil é um país que produz muitos humoristas, você se inspira em algum deles?
Paulo Vinnicius: Como eu disse o stand up comedy é muito recente, mas me inspiro muito no Fábio Porchat, Danilo Gentili, Fábio Rabin, Leo Lins entre outros.

Duo Postal: Alguns humoristas dizem que fazer rir é muito difícil, além de às vezes sofrerem certo tipo de censura. Em sua opinião, qual o maior desafio de se fazer comédia hoje em dia?

Paulo Vinnicius: As pessoas não fazem idéia de como é o processo da construção de uma piada. Muita gente ainda acha que o comediante sobe ao palco e fala sobre assuntos desordenados e de forma improvisada. Tudo é minuciosamente planejado e as piadas são testadas ao longo dos shows. No humor mais tradicional no Brasil, o comediante personagem, ou ator, recorre a piadas da internet, ou livros e fazem uma interpretação das mesmas. No stand up, cada comediante necessariamente escreve seu próprio texto. Imagine como fazer para saber se uma piada é engraçada ou não. Dar a cara a tapa. Por isso a dificuldade. O comediante stand up escreve sobre o cotidiano e faz um humor mais crítico. O grande desafio hoje é a hipocrisia de grande parte da sociedade. De não saber interpretar algo como uma piada e sim como uma ofensa. Na coluna de um site escrevi o seguinte:
“Mas piada é piada, é para fazer rir. Uma piada é um exagero, uma caricatura, e claro sempre sem ridicularizar o alvo, mas piadas são piadas e o brasileiro ainda não consegue perceber a diferença entre ser ofendido e se sentir ofendido. É preciso ser inteligente para perceber a diferença. Isso vale para gays, negros, brancos, baixos, gordos e gigantes como eu. Antes de achar que um comediante está ofendendo sua classe, sua crença, sua cor, seu sexo, tente entender a lógica da piada, sua construção e a sua licença crítica e cômica.”
Fotos: Divulgação

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Através dos olhos do cinegrafista

Thairiny Diniz

            Há nove anos na TV Globo, o repórter cinematográfico Leandro Cordeiro nos conta um pouco de sua trajetória e peculiaridades da profissão. Já foi premiado com a melhor série do ano, sobre a dengue, em que ganhou na categoria de Jornalismo Comunitário. Depois de uma jornada de muita batalha e persistência, hoje ele se orgulha de ter seu trabalho reconhecido.

Duo Postal: Como começou sua carreira?

Leandro Cordeiro: Foi como contínuo, na TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo em Resende. Depois, passei para auxiliar de câmera, por um ano, e em 1997 fiz curso de cinegrafista e fui promovido. Fui transferido para Volta Redonda e em seguida para Angra dos Reis. Em 2002, vim para Rede Globo.

Duo Postal: Hoje em dia ainda acontece dessa forma?

Leandro Cordeiro: Hoje a TV Globo seleciona alunos de Jornalismo que queiram ser cinegrafistas e fazem uma seleção até encontrar alguém que possa ser aproveitado. Fora isso, só se for um grande cinegrafista de outra emissora.

Duo Postal: Que matéria mais marcou sua vida?

Leandro Cordeiro: Essa eu não esqueço. Foi um acidente na via Dutra, no dia 27 de setembro, dia de São Cosme e São Damião, um carro entrou embaixo do ônibus e todos que estavam nele morreram. O nome do motorista do ônibus era Cosme Damião.

Duo Postal: Qual matéria você mais se orgulha de ter feito?

Leandro Cordeiro: Foi uma série de reportagem sobre a dengue. Disputei com a TV Globo do Brasil todo, e ganhei o prêmio de melhor série do ano.

Duo Postal: Você costuma viajar a trabalho. Qual foi a viagem mais marcante?

Leandro Cordeiro: Sem dúvida, foi a de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Fomos fazer uma matéria para o JN no Ar, para mostrar como estava a cidade depois da prisão de vários políticos que foram flagrados recebendo propina.

Duo Postal: O que você ainda não teve oportunidade de filmar?

Leandro Cordeiro: Gostaria muito de ir a uma Copa do Mundo. Alguns colegas de profissão já tiveram essa oportunidade e contam que é uma grande experiência.

Duo Postal: Alguma matéria já colocou em risco sua segurança?

Leandro Cordeiro: Várias, principalmente operação policial em favela. Na hora, é muita adrenalina, a única coisa que pensamos é conseguir as melhores imagens para podermos passar para os telespectadores a realidade. Só depois com mais calma conversando com colegas vemos o risco que corremos.

Duo Postal: Com o avanço da tecnologia, qualquer pessoa é capaz de gravar uma imagem e torná-la pública. Em sua opinião, essa facilidade pode ameaçar o futuro dos cinegrafistas?

Leandro Cordeiro: Não. Existe uma diferença muito grande em fazer uma imagem de uma reportagem. O resultado de um bom trabalho jornalístico deve captar nas imagens não apenas as ações, mas as emoções, os detalhes que vão fazer a diferença. Uma pessoa leiga não conhece as técnicas necessárias para realizar uma boa imagem como luz, cor e temperatura.

Duo Postal: Se não fosse cinegrafista, qual profissão escolheria?

Leandro Cordeiro: Gostaria de estudar Direito para ser delegado. Porque tanto o jornalista quanto o policial trabalham com a verdade.

sábado, 9 de julho de 2011

Artista plástico de raiz indígena

 
O artista plástico e designer Denilson Baniwa
Marcelo Mesquita
            Nascido no município de Barcelos no estado do Amazonas, e de ter passado a infância na aldeia de Baturité, o artista plástico e designer gráfico Denílson Baniwa, participa há dez anos junto com outros artistas indígenas, de projetos de defesa e divulgação de sua cultura no Brasil. Atualmente Denílson mora em Niterói-RJ e dedica-se a ilustrar o cotidiano carioca através de charges e curtas-metragens, com muito humor e crítica social, além de trabalhar conceitos modernos através de traços de seu povo.
Duo Postal: Quanto tempo você viveu na aldeia de Baturité?
Denílson Baniwa: Minha primeira infância foi lá. Nessa época aprendi coisas que nunca esquecerei. As experiências desse tempo marcam muito meu modo de ver o mundo e das relações com as pessoas e amigos. Muito do que faço e vivo hoje é consequência das escolhas que aprendi a fazer nessa época em Baturité.
Duo Postal: Quem foi sua influência nas artes plásticas?
Denílson Baniwa: É difícil falar sobre isso. Na vida indígena a arte é cotidiana. Música, danças, esculturas, pinturas representativas, confecção de utensílios e trabalhos manuais, são coisas do dia a dia. Quando tive a oportunidade de conhecer o sentido de arte, a aura de uma tela ou escultura, percebi que muito daquilo que se fala nas escolas eu já tinha aprendido na vivência indígena. Da escola vieram influências que considero primordiais para meu trabalho. Brasileiros como Tarsila do Amaral e a sua Arte Moderna, Angeli com a Rê Bordosa, Henfil com a revista Fradim, até atualmente com o humor ácido de André Dhamer e Allan Sieber. E claro, os gringos sempre foram referências para mim. Dos ilustradores ingleses clássicos ao maravilhoso trabalho de Banksy, das PinUp’s americanas aos Nanquins japoneses.

Duo Postal: Onde você costuma expor suas obras?
Denílson Baniwa: Ultimamente a web dá muita oportunidade de mostrar sua cara ao mundo. Então tento aproveitar essa ferramenta da melhor forma possível. Além claro, das tradicionais paredes que sempre surgem, sejam mediadas por amigos ou nas conversas de bar.

Duo Postal: Que tipo de crítica social você procura passar em suas charges?
Denílson Baniwa: Eu não acredito que tudo seja culpa do governo e das politicagens que estes fazem. Acredito que 50% dos nossos problemas seja nossa culpa, a gente esqueceu como cobrar, como lutar por aquilo que acreditamos. Então esquecemos de exigir melhorias. Não falo apenas de ligar para aquele que você elegeu na última eleição, mas, por exemplo, não jogar lixo no chão. Essa sim é uma forma de melhorarmos nossa situação. E isso parte de nosso próprio desejo de mudar as coisas. Isso sem falar que aquele lixo se não recolhido a tempo, irá causar inúmeros problemas, desde inundações e ratos, até problemas de saúde. A outra parte é culpa dos governantes que fazem do Legislativo, Judiciário e Executivo, apenas escadas de empregos e bons salários. E isso depende de nós para mudar. O que quero com a arte que faço é dizer: façamos nossa parte para melhorar nossa cidade, aí sim teremos moral de chegar ao gabinete dos políticos e dizer: faça sua parte!
Duo Postal: Por ter raízes indígenas, você lida com questões ambientais em suas obras?
Denílson Baniwa: Sendo indígena ou não, atualmente não há como esquecer questões ambientais. E sendo indígena é quase uma obrigação pautar o meio ambiente  e outras questões sociais no meu trabalho. Vejo muita coisa acontecendo e é preciso escolher um lado, você está do lado do crescimento econômico sem regras, ou do lado que respeita o ser humano e o que ainda temos de preservado no nosso país? Hoje não há mais florestas na Europa. Há usinas de energia atômica causando danos às pessoas no Japão, lixo tóxico despejado nos rios dos EUA. É isso que queremos para o Brasil? Eu não quero.
Duo Postal: Como é feito esse trabalho de levar às pessoas a cultura indígena em seus desenhos?
Denílson Baniwa: Eu tento passar um lado menos exótico, menos hollywoodiano, menos fantasia. Eu quero passar a realidade, o que realmente acontece nas aldeias e o que os indígenas pensam sobre a sociedade e sobre o mundo. Hoje o que vejo é muita gente tendo uma idéia exótica sobre os indígenas, do tipo que sempre foram explorados pela mídia, do tipo que indígenas tem que permanecer como em 1500. Esquecem que hoje existem centenas de professores, médicos, enfermeiros, advogados, executivos no Brasil, todos indígenas. Os índios estão lutando por espaços na sociedade e cada vez mais conseguindo gerir sua própria vida, sem esquecer de suas raízes e da sua identidade cultural. Somos mais de 100 povos indígenas no Brasil, cada um diferente do outro. Tem aqueles que aprenderam a usar as ferramentas como mídia e governo a seu favor, e há aqueles que continuam sendo explorados e enganados como em 1500. Precisamos mostrar essa outra face indígena, o lado em que o cocar e o andar nu não faz sentido. É essa realidade que quero passar, o indígena real, aquele que ainda sofre, mas tem força de levantar e continuar lutando por melhores dias.
Duo Postal: Ser designer gráfico te ajuda em criar e trabalhar com novas perspectivas?


Denílson Baniwa: Trabalhar com design, é resultado das experiências que tive, das pessoas que conheci e das escolhas que fiz até agora. O design gráfico tem presença fundamental no nosso cotidiano, tudo é pensado e trabalhado para que faça sentido e represente sua função de comunicar de forma eficaz. O ato de criar uma comunicação que seja reconhecida e aproveitada por todos é maravilhoso. O mais legal é que, com tudo o que aprendi fora de Baturité, posso ajudar outros indígenas e gerar uma nova rede de conhecimentos. Então, quando posso, ajudo no Centro Amazônico de Formação Indígena em Manaus, como professor de informática e ao mesmo tempo a formar novos pensadores e críticos da realidade indígena atual. Ou simplesmente criar uma referência dentro da sociedade, onde indígenas podem estar em grandes empresas e ter a mesma competência dos não-índios.
Fotos: divulgação

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Uma grande celebração à arte


Foto: Divulgação
Marcelo Mesquita

Idealizado pelos poetas Rodrigo Santos e Rômulo Narducci, inspirados pelo livro homônimo de Álvares de Azevedo, Uma Noite Na Taverna é um sucesso em São Gonçalo-RJ, tendo acontecido nos anos de 2004 e 2005 no SESC; 2006 e 2007 na Fundação de Artes de São Gonçalo e regressando em 2008 novamente ao SESC, onde acontece desde então, mantendo uma média mensal de público de 150 pessoas.
As tavernas eram o ponto de encontro dos artistas na Idade Média. Ao criar um clima de taverna, com velas e penumbra, eles trazem ao público contemporâneo, a mesma magia de outrora. Essencialmente literário, o recital abre suas portas para todas as manifestações artísticas: teatro, artes plásticas, música, cinema, dança. E é neste clima que tais manifestações são apresentadas de forma a envolver o público em uma grande celebração à arte.
O Duo Postal conversou com os poetas sobre o sucesso da Taverna e entre outras coisas, a possibilidade deles estarem levando o recital de poesia para outros lugares.


Duo Postal: Quando perceberam que a poesia ia fazer parte da vida de vocês?

Rodrigo Santos: Eu percebi muito cedo lendo poesia e acho que todo mundo passa por um período que rabisca alguma coisa. Por eu gostar muito de ler, eu me interesso em ler poesia e vi nisso também uma forma de expressão.

Duo Postal: Quais foram os poetas que mais influenciaram a vida de vocês?

Rômulo Narducci: Eu comecei a ser influenciado através do teatro, quando fiz um curso de teatro, muito cedo também, por volta de uns 12 anos, e nós trabalhávamos os textos de Baudelaire, Rimbaud. Então foi aí que a poesia começou a me despertar, só que de acordo com o que você vai seguindo, você acaba se tornando poeta, ainda mais para o evento que a gente faz. Nós vamos sofrendo algumas interferências também como, por exemplo da minha parte, a geração do Baronismo, todos aqueles poetas do mal do século e uma bem pesada influência da Beat Generation, com Allen Ginsberg, Bukowisk e em alguns momentos a gente percebe que a geração que vem escrevendo hoje em dia frequenta a Taverna. Não sei se isso é influência dos nossos influenciadores que nós mostramos, ou se já é um movimento que está surgindo.

Rodrigo Santos: Eu comecei a escrever poesia por ler meu grande mestre, Álvares de Azevedo, para mim foi o cara que me norteou. Eu tive várias influências, mas a base que me influenciou foi Álvares de Azevedo. Depois que tive contato com Fernando Pessoa não mudei a temática, mas mudei a forma de escrever. Álvares de Azevedo e Fernando Pessoa me ajudaram bastante.

Duo Postal: Como vocês traduzem o sucesso da Taverna?

Rodrigo Santos: É o que a gente acredita. As pessoas gostam de arte. No Brasil, criou-se essa aura que arte é para intelectuais e não é, a arte fala para a alma e alma todo mundo tem. Nesses oito anos temos uma média de público de 150 pessoas. Já tivemos até 250 pessoas num evento, tinha gente sentada no chão para ouvir poesia. O sucesso não é nosso, o sucesso é estar viabilizando esse acesso à arte ao grande público.

Duo Postal: Vocês já pensaram em sair por outras cidades em turnê, levando a Taverna?

Rômulo Narducci: Estamos pensando sim, e percebemos que a cidade de São Gonçalo (RJ), está ficando pequena. Já tivemos propostas, a gente está analisando e vamos entrar em contato para poder ver essa questão.

Rodrigo Santos: A gente roda muito em evento de poesia também e o que a gente vê, seja na Zona Sul, ou em Icaraí, são eventos de arte para artista. A arte é popular sim, ela não precisa ser popularesca, não precisa diluir isso para mostrar ao público. A gente quer levar para outros lugares justamente essa ideia, de quebrar essa hegemonia intelectualóide que existe no Brasil, na arte em geral, seja na música, poesia e por aí vai.

Duo Postal: Sobre a valorização da leitura, como você vê o jovem de hoje em dia, que prefere ficar horas na internet ao invés de ler um livro.

Rodrigo Santos: Eu acho que o problema não é a internet. Eu acho que tem que quebrar esse paradigma para o jovem, é conseguir mostrar para ele que dentro do livro, ele vai se divertir, ele vai aprender, não é só aquela coisa pedagógica. É mostrar para o jovem a importância e o prazer dele em ler. O problema não é o meio, o problema é como o meio é utilizado.


Os tavernistas Rômulo Narducci e Rodrigo Santos

Finalizamos com uma estrofe de uma das poesias de Álvares de Azevedo:

“Quantos encantos sonhados
Sinto estremecer velados
Por teu cândido vestido!
Sem ver teu seio, donzela,
Suas delícias revela
O poeta embevecido!”
Foto: Marcelo Mesquita

sábado, 7 de maio de 2011

Rock para os ouvidos e Prosaico na veia

Foto: divulgação
Marcelo Mesquita

Fundada no final dos anos 90, a banda Prosaico passou por um longo período de hibernação, até ser reativada em 2007, no Rio de Janeiro, pelo seu fundador, Thiago Coimbra. Desde então, a banda busca mais espaço no cenário do Rock independente. A banda também criou a “Revista Prosaico Rock!”, lugar destinado a abordagem de temas fundamentais para a sociedade como meio ambiente, cultura e Rock`n’ Roll.
O primeiro álbum, intitulado "Pra Quem Não Sabe", foi lançado em 2009 pelo selo Astronauta Discos no formato SMD, contendo nove músicas autorais e uma releitura da clássica “Get up, Stand up”, de Bob Marley.
Atualmente, o conjunto conta com Dauler Dib na bateria, Renan Matias no baixo e Thiago Coimbra na guitarra e voz. No final de 2010, a banda produziu o Arariboia Rock em Niterói-RJ. O Duo Postal conversou com a banda sobre shows, Rock in Rio e sobre a expectativa de quando sairá o novo disco.

Duo Postal: Como está a agenda de shows da Prosaico?

Prosaico: Atualmente, a agenda de shows do Prosaico está numa marcha mais lenta, porque neste ano queremos investir mais em mídia. Estamos fazendo um projeto e verificando a possibilidade de fechar com algumas parcerias. Queremos mais visibilidade e pelo menos os shows que aparecem por aqui, para o underground, o retorno que dá em termos de público é muito lento.

Duo Postal: Vocês têm vontade de tocar no Rock In Rio? Como seria para vocês?

Prosaico: Tocar no Rock In Rio iria ser muito bom, tocava até na tenda de forró, tocava qualquer coisa em qualquer lugar. Eu mandava até fazer uma camisa escrita “EU TOQUEI” (risos).

Duo Postal: Depois de aparecer várias bandas coloridas na mídia, queria que vocês me dissessem como veem o futuro do rock brasileiro?

Prosaico: Eu respeito muito essas bandas, porque eles são extremamente competentes na proposta de trabalho deles, que é fazer música para adolescente. Isso é tudo indústria e ela escolhe quem vai fazer sucesso, então a gente fica a mercê. Hoje em dia, a internet possibilita a pessoa de buscar aquilo que quer. A internet possibilita o espaço de harmonia entre as bandas, o difícil é conseguir se destacar. É aquela história de ter uma alavanca, alguma coisa que te dê uns 15 minutos de fama para galera ver e aí quem gostar de você vai atrás.

Duo Postal: O último disco foi o “Pra quem não sabe”, quando vai sair material novo, vocês já têm composições novas?

Prosaico: Temos muitas composições. Provavelmente, o segundo disco deva sair em 2012. A gente quer criar outras coisas, porque nesse disco, apesar de já ter um tempo, não se aproveitou muito. A gente gravou e está vendendo em show. Está uma média de cinco CDs vendidos para cada dez pessoas.

Duo Postal: Vocês já tocaram em universidades, como são as apresentações?

Prosaico: Tocar em universidade é muito bom pra gente. O público é diferente, eles têm uma outra visão. São pessoas de diferentes estilos, reunidas curtindo a nossa música, é empolgante.
Fotos: Marcelo Mesquita

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Quando a sucata se transforma em instrumento musical

Marcelo Mesquita

Com um trabalho que não é somente visual e sim sonoro e performático, o Sucateando dá valor à sucata transformando-a em instrumento musical. A metodologia é simples, o material é de fácil acesso e não exclui pessoas de nenhuma faixa etária e nem classe social.
            O Duo Postal conversou com Marco Antônio, criador do Sucateando que nos contou um pouco do trabalho que realiza. Além da Oficina do Pensamento Criativo que usa habilidades criativas como forma de expressão, Marco ainda tem um grupo musical chamado Bufuý e atualmente vem realizando várias atividades na área da arte e cultura, todos voltados para o uso da sucata como instrumentos musicais.

Duo Postal: Como começou a idéia de fazer a Oficina do Pensamento Criativo?

Marco Antônio: Eu venho pesquisando vários materiais o tempo inteiro e aí num dia eu me deparei com uns sacos plásticos e percebi que eles têm bastantes possibilidades e o legal é que você pode fazer música com um objeto desses. E quando você se utiliza desses materiais e os transforma em brinquedo e em música, é bem estimulante, e eu uno a criatividade com a linguagem ambiental, e daí surgem novas ideias.

Duo Postal: Como é o processo de montagem dos instrumentos?

Marco Antônio: Eu vou guardando vários materiais. Eu encontro o material, me encanto com a forma dele e a partir daí vou explorando os sons desses materiais, porque quando eu me aposso de um material, eu penso que ele sendo transformado em instrumento, eu consigo encantar o público. Quando as pessoas percebem que é um material que está próximo delas e elas não usam, então elas percebem que a gente tem muita possibilidade de criação. Ninguém para pra perceber as coisas que estão a nossa volta.

Duo Postal: Que tipo de objeto é mais utilizado?

Marco Antônio: É independente. Acho que vai tudo no momento, tem época que estou curtindo muito os plásticos, tem momento que vejo madeira pela rua e fico louco, ou passo e vejo um lustre, é casual. Não fico pensando muito, é o que aparece.

Duo Postal: E quando o instrumento está pronto, que tipo de ritmo você toca?

Marco Antônio: Eu procuro explorar todos os ritmos e as possibilidades. Às vezes pego a técnica de um instrumento indiano e aplico num objeto que não tem nada a ver e faço uma mistura cultural.

Duo Postal: Você já se apresentou fora do Brasil?

Marco Antônio: Já estive na Europa, Ásia e no Oriente Médio.

Duo Postal: Como o pessoal dessas regiões absorveram o seu trabalho?

Marco Antônio: No início é bem estranho porque são cultura e comportamentos diferentes. No momento que vão entendendo qual é a proposta do trabalho, eles vão ficando encantados porque percebem que eles têm muitas possibilidades de recursos pra desenvolver o mesmo trabalho, e isso é legal porque não limita em momento nenhum. Temos uma sensação bem bacana, é uma abertura bem boa nos países que desenvolvemos nosso trabalho. Por ter um lado musical de muito suingue como é o Brasil, a gente aqui tem muito ritmo, e cada vez mais encanta porque levamos a rica cultura brasileira pra lá, e quando você mostra um instrumento que é feito de sucata, é diferente, porque tem um encantamento.


  Marco Antônio finaliza: “A sucata é rica porque a gente pode tocar com a mão, com cabo de madeira, ferro ou plástico e ele vai tendo resultados sonoros diferentes e é um material resistente. O tempo todo transformamos os objetos sonoramente, estamos interferindo nele de maneiras diversas”. E completa, “o legal é estar sempre em transformação”.
Fotos: Marcelo Mesquita