quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O show de Truman


Marcelo Mesquita

         Bom dia! É bom vê-lo novamente! Diria Truman (Jim Carey) ao seu vizinho todos os dias quando saía para trabalhar; mas onde Truman trabalha, onde ele mora e em que mundo ele vive? Truman é um cidadão comum. Nasceu, frequentou a escola, arrumou um emprego e casou. Atualmente mora com a esposa numa pequena cidade chamada Seaheaven, onde não há violência, todos se respeitam, além de ser um lugar pequeno, limpo e ter uma enorme praia. Tudo é perfeito, exceto apenas por um único e mísero detalhe: Truman não nasceu, foi forjado; Truman não frequentou a escola, introduziram um pouco de conhecimento nele; Truman não arrumou um emprego, a propaganda é feita nele; Truman também não se casou, foi apenas seduzido privando-o de seu verdadeiro sentimento.
            Por fim, esta brilhante cidade não passa de um imenso cenário onde nada é real, mas o que é realidade? O Aurélio dirá que “realidade é aquilo que existe efetivamente, que é real”. De fato, Truman vivia numa realidade até que começou a perceber algo estranho acontecendo, como por exemplo, pessoas e carros passando num determinado lugar como se fosse algo programado, nada diferente de nossa triste realidade, onde as mesmas pessoas e carros passam diariamente nas ruas sem nem ao menos percebermos a diferença.
            Os Beatles certa vez cantaram “nada é real e não há nada com o que se preocupar”, eles estavam certos, pois Truman poderia passar o resto de sua vida naquele mundo e certamente talvez viveria feliz, pois em sua realidade não existia o problema de violência ou coisa parecida, até que ele começou a se preocupar.
            No filme “A Vida é Bela”, o personagem de Roberto Benigni mostra ao filho uma realidade bem mais divertida do que uma com os terríveis horrores da guerra em que eles estavam vivendo, provando que nós mesmos fazemos nossa própria realidade; foi o que Cristof (Ed Harris), o diretor do mundo “imaginário” ao qual Truman vivia, fez quando lhe deu uma realidade a seu gosto, indo bem mais além do que a nossa realidade. Assim como Deus criou o mundo, Cristof criou uma realidade para Truman, onde o mar, o céu e a lua eram comandados por ele. Truman estava preso naquele mundo e certamente morreria nele, pois estava sendo controlado por Cristof, mas ao contrário de Deus, Cristof não podia controlar seus sentimentos.
            Como um pássaro que acaba de aprender a voar, Truman adquire sonhos e objetivos que só mesmo voando alto ele conseguiria alcançá-los. Tudo foi fabricado em Truman, exceto o amor que ele sentiu por uma garota. Ele iria até em Fiji para encontrá-la, diferente dos personagens criados por Platão que mesmo saindo da realidade onde viviam, retornam para a caverna. A caverna de Platão era uma das mais impressionantes imagens filosóficas já elaboradas, ilustra vividamente como Platão via a condição humana. Ele dizia: “estamos presos num mundo de sombras, o mundo real está oculto para nós”. Como os prisioneiros em sua caverna alegórica, somos seduzidos por uma ilusão. Confundimos sombras com realidade, mas não temos como saber que estamos sendo enganados.
            Talvez ao sair por aquela porta Truman descubra toda a verdade em sua vida, mas que verdade? Que realidade Truman vai descobrir além da qual ele viveu até aquele momento? Ao contrário do mundo irreal onde estava, agora é apenas sua vida e seus sentimentos que o guiarão em sua nova realidade. Boa sorte Truman, tenha um bom dia e até o próximo show. O show da vida.