sábado, 30 de julho de 2011

O humor em Stand up Comedy

O humorista Paulo Vinnicius
Marcelo Mesquita

Ele é sem dúvida um dos maiores comediantes do Brasil. Também com seus dois metros de altura, os outros são todos pequeninos perto dele. Esse é Paulo Vinnicius que desde 2008, quando fez um curso de teatro de formação básica de 10 meses na UFF, com Cecília Vaz, percebeu que com suas piadas o humor ia ser um sucesso em sua vida. Paulo foi indicado a fazer um curso de Stand up Comedy ministrado na época pelo ator e comediante Fábio Porchat, ator e redator da Rede Globo e um dos pioneiros do estilo de comédia no Rio de Janeiro. Desde então, Paulo Vinnicius não parou mais e fundou com alguns amigos o grupo Doida Comédia Stand up, que apesar de fazer humor, também faz um trabalho sério.

Duo Postal: Você ainda faz parte do Doida Comédia? Como é a convivência de vocês?

Paulo Vinnicius: Faço sim, na realidade eu sou integrante fundador do grupo. A convivência não é fácil, mas também não é ruim. Quando convidei os atuais integrantes para serem parte do grupo Doida Comédia Stand up, eu lhes entreguei a responsabilidade da sociedade. Não quero nada para mim, não quero ser dono de um grupo como a gente vê por aí. E justamente por todos terem opiniões de peso, a coisa às vezes esquenta, mas acredito que seja exatamente isso que tem feito o grupo Doida Comédia crescer com tamanha velocidade. Essa questão da convivência é muito importante de ser trabalhada, estamos sempre discutindo, mas sempre procurando nos entender porque todos os negócios passam por isso, seja uma empresa, um grupo musical ou um grupo de humor. É preciso ter maturidade para levar essa questão a sério e fazer um bom trabalho.

Duo Postal: Você também trabalha fazendo imitações?

Paulo Vinnicius: Não, infelizmente não. Eu brinco de fazer a pior imitação do Sílvio Santos ou Zé Colméia e Catatau, Fred e Barney, mas essas são vozes que qualquer pessoa consegue fazer. Eu não tenho esse dom.

Duo Postal: Quando foi que você percebeu que o estilo stand up comedy ia funcionar?
Paulo Vinnicius: Às vezes não funciona, (risos). Mas esse é o jogo. O stand up comedy é um estilo de humor muitíssimo recente no Brasil, há centenas de pessoas que entram em um teatro para assistir os melhores comediantes Stand up do Brasil sem saber exatamente o que vão assistir. Sabem apenas que é algo de humor. O sucesso desse estilo é que as pessoas de um modo geral estavam gritando por um humor mais ácido, algo mais crítico e menos besteirol. Fui indicado por uma professora de teatro a fazer um curso com Fábio Porchat sobre stand up comedy, me apaixonei, e entrei com tudo para me desenvolver nisso.

Duo Postal: O Brasil é um país que produz muitos humoristas, você se inspira em algum deles?
Paulo Vinnicius: Como eu disse o stand up comedy é muito recente, mas me inspiro muito no Fábio Porchat, Danilo Gentili, Fábio Rabin, Leo Lins entre outros.

Duo Postal: Alguns humoristas dizem que fazer rir é muito difícil, além de às vezes sofrerem certo tipo de censura. Em sua opinião, qual o maior desafio de se fazer comédia hoje em dia?

Paulo Vinnicius: As pessoas não fazem idéia de como é o processo da construção de uma piada. Muita gente ainda acha que o comediante sobe ao palco e fala sobre assuntos desordenados e de forma improvisada. Tudo é minuciosamente planejado e as piadas são testadas ao longo dos shows. No humor mais tradicional no Brasil, o comediante personagem, ou ator, recorre a piadas da internet, ou livros e fazem uma interpretação das mesmas. No stand up, cada comediante necessariamente escreve seu próprio texto. Imagine como fazer para saber se uma piada é engraçada ou não. Dar a cara a tapa. Por isso a dificuldade. O comediante stand up escreve sobre o cotidiano e faz um humor mais crítico. O grande desafio hoje é a hipocrisia de grande parte da sociedade. De não saber interpretar algo como uma piada e sim como uma ofensa. Na coluna de um site escrevi o seguinte:
“Mas piada é piada, é para fazer rir. Uma piada é um exagero, uma caricatura, e claro sempre sem ridicularizar o alvo, mas piadas são piadas e o brasileiro ainda não consegue perceber a diferença entre ser ofendido e se sentir ofendido. É preciso ser inteligente para perceber a diferença. Isso vale para gays, negros, brancos, baixos, gordos e gigantes como eu. Antes de achar que um comediante está ofendendo sua classe, sua crença, sua cor, seu sexo, tente entender a lógica da piada, sua construção e a sua licença crítica e cômica.”
Fotos: Divulgação

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Através dos olhos do cinegrafista

Thairiny Diniz

            Há nove anos na TV Globo, o repórter cinematográfico Leandro Cordeiro nos conta um pouco de sua trajetória e peculiaridades da profissão. Já foi premiado com a melhor série do ano, sobre a dengue, em que ganhou na categoria de Jornalismo Comunitário. Depois de uma jornada de muita batalha e persistência, hoje ele se orgulha de ter seu trabalho reconhecido.

Duo Postal: Como começou sua carreira?

Leandro Cordeiro: Foi como contínuo, na TV Rio Sul, afiliada da Rede Globo em Resende. Depois, passei para auxiliar de câmera, por um ano, e em 1997 fiz curso de cinegrafista e fui promovido. Fui transferido para Volta Redonda e em seguida para Angra dos Reis. Em 2002, vim para Rede Globo.

Duo Postal: Hoje em dia ainda acontece dessa forma?

Leandro Cordeiro: Hoje a TV Globo seleciona alunos de Jornalismo que queiram ser cinegrafistas e fazem uma seleção até encontrar alguém que possa ser aproveitado. Fora isso, só se for um grande cinegrafista de outra emissora.

Duo Postal: Que matéria mais marcou sua vida?

Leandro Cordeiro: Essa eu não esqueço. Foi um acidente na via Dutra, no dia 27 de setembro, dia de São Cosme e São Damião, um carro entrou embaixo do ônibus e todos que estavam nele morreram. O nome do motorista do ônibus era Cosme Damião.

Duo Postal: Qual matéria você mais se orgulha de ter feito?

Leandro Cordeiro: Foi uma série de reportagem sobre a dengue. Disputei com a TV Globo do Brasil todo, e ganhei o prêmio de melhor série do ano.

Duo Postal: Você costuma viajar a trabalho. Qual foi a viagem mais marcante?

Leandro Cordeiro: Sem dúvida, foi a de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Fomos fazer uma matéria para o JN no Ar, para mostrar como estava a cidade depois da prisão de vários políticos que foram flagrados recebendo propina.

Duo Postal: O que você ainda não teve oportunidade de filmar?

Leandro Cordeiro: Gostaria muito de ir a uma Copa do Mundo. Alguns colegas de profissão já tiveram essa oportunidade e contam que é uma grande experiência.

Duo Postal: Alguma matéria já colocou em risco sua segurança?

Leandro Cordeiro: Várias, principalmente operação policial em favela. Na hora, é muita adrenalina, a única coisa que pensamos é conseguir as melhores imagens para podermos passar para os telespectadores a realidade. Só depois com mais calma conversando com colegas vemos o risco que corremos.

Duo Postal: Com o avanço da tecnologia, qualquer pessoa é capaz de gravar uma imagem e torná-la pública. Em sua opinião, essa facilidade pode ameaçar o futuro dos cinegrafistas?

Leandro Cordeiro: Não. Existe uma diferença muito grande em fazer uma imagem de uma reportagem. O resultado de um bom trabalho jornalístico deve captar nas imagens não apenas as ações, mas as emoções, os detalhes que vão fazer a diferença. Uma pessoa leiga não conhece as técnicas necessárias para realizar uma boa imagem como luz, cor e temperatura.

Duo Postal: Se não fosse cinegrafista, qual profissão escolheria?

Leandro Cordeiro: Gostaria de estudar Direito para ser delegado. Porque tanto o jornalista quanto o policial trabalham com a verdade.

sábado, 9 de julho de 2011

Artista plástico de raiz indígena

 
O artista plástico e designer Denilson Baniwa
Marcelo Mesquita
            Nascido no município de Barcelos no estado do Amazonas, e de ter passado a infância na aldeia de Baturité, o artista plástico e designer gráfico Denílson Baniwa, participa há dez anos junto com outros artistas indígenas, de projetos de defesa e divulgação de sua cultura no Brasil. Atualmente Denílson mora em Niterói-RJ e dedica-se a ilustrar o cotidiano carioca através de charges e curtas-metragens, com muito humor e crítica social, além de trabalhar conceitos modernos através de traços de seu povo.
Duo Postal: Quanto tempo você viveu na aldeia de Baturité?
Denílson Baniwa: Minha primeira infância foi lá. Nessa época aprendi coisas que nunca esquecerei. As experiências desse tempo marcam muito meu modo de ver o mundo e das relações com as pessoas e amigos. Muito do que faço e vivo hoje é consequência das escolhas que aprendi a fazer nessa época em Baturité.
Duo Postal: Quem foi sua influência nas artes plásticas?
Denílson Baniwa: É difícil falar sobre isso. Na vida indígena a arte é cotidiana. Música, danças, esculturas, pinturas representativas, confecção de utensílios e trabalhos manuais, são coisas do dia a dia. Quando tive a oportunidade de conhecer o sentido de arte, a aura de uma tela ou escultura, percebi que muito daquilo que se fala nas escolas eu já tinha aprendido na vivência indígena. Da escola vieram influências que considero primordiais para meu trabalho. Brasileiros como Tarsila do Amaral e a sua Arte Moderna, Angeli com a Rê Bordosa, Henfil com a revista Fradim, até atualmente com o humor ácido de André Dhamer e Allan Sieber. E claro, os gringos sempre foram referências para mim. Dos ilustradores ingleses clássicos ao maravilhoso trabalho de Banksy, das PinUp’s americanas aos Nanquins japoneses.

Duo Postal: Onde você costuma expor suas obras?
Denílson Baniwa: Ultimamente a web dá muita oportunidade de mostrar sua cara ao mundo. Então tento aproveitar essa ferramenta da melhor forma possível. Além claro, das tradicionais paredes que sempre surgem, sejam mediadas por amigos ou nas conversas de bar.

Duo Postal: Que tipo de crítica social você procura passar em suas charges?
Denílson Baniwa: Eu não acredito que tudo seja culpa do governo e das politicagens que estes fazem. Acredito que 50% dos nossos problemas seja nossa culpa, a gente esqueceu como cobrar, como lutar por aquilo que acreditamos. Então esquecemos de exigir melhorias. Não falo apenas de ligar para aquele que você elegeu na última eleição, mas, por exemplo, não jogar lixo no chão. Essa sim é uma forma de melhorarmos nossa situação. E isso parte de nosso próprio desejo de mudar as coisas. Isso sem falar que aquele lixo se não recolhido a tempo, irá causar inúmeros problemas, desde inundações e ratos, até problemas de saúde. A outra parte é culpa dos governantes que fazem do Legislativo, Judiciário e Executivo, apenas escadas de empregos e bons salários. E isso depende de nós para mudar. O que quero com a arte que faço é dizer: façamos nossa parte para melhorar nossa cidade, aí sim teremos moral de chegar ao gabinete dos políticos e dizer: faça sua parte!
Duo Postal: Por ter raízes indígenas, você lida com questões ambientais em suas obras?
Denílson Baniwa: Sendo indígena ou não, atualmente não há como esquecer questões ambientais. E sendo indígena é quase uma obrigação pautar o meio ambiente  e outras questões sociais no meu trabalho. Vejo muita coisa acontecendo e é preciso escolher um lado, você está do lado do crescimento econômico sem regras, ou do lado que respeita o ser humano e o que ainda temos de preservado no nosso país? Hoje não há mais florestas na Europa. Há usinas de energia atômica causando danos às pessoas no Japão, lixo tóxico despejado nos rios dos EUA. É isso que queremos para o Brasil? Eu não quero.
Duo Postal: Como é feito esse trabalho de levar às pessoas a cultura indígena em seus desenhos?
Denílson Baniwa: Eu tento passar um lado menos exótico, menos hollywoodiano, menos fantasia. Eu quero passar a realidade, o que realmente acontece nas aldeias e o que os indígenas pensam sobre a sociedade e sobre o mundo. Hoje o que vejo é muita gente tendo uma idéia exótica sobre os indígenas, do tipo que sempre foram explorados pela mídia, do tipo que indígenas tem que permanecer como em 1500. Esquecem que hoje existem centenas de professores, médicos, enfermeiros, advogados, executivos no Brasil, todos indígenas. Os índios estão lutando por espaços na sociedade e cada vez mais conseguindo gerir sua própria vida, sem esquecer de suas raízes e da sua identidade cultural. Somos mais de 100 povos indígenas no Brasil, cada um diferente do outro. Tem aqueles que aprenderam a usar as ferramentas como mídia e governo a seu favor, e há aqueles que continuam sendo explorados e enganados como em 1500. Precisamos mostrar essa outra face indígena, o lado em que o cocar e o andar nu não faz sentido. É essa realidade que quero passar, o indígena real, aquele que ainda sofre, mas tem força de levantar e continuar lutando por melhores dias.
Duo Postal: Ser designer gráfico te ajuda em criar e trabalhar com novas perspectivas?


Denílson Baniwa: Trabalhar com design, é resultado das experiências que tive, das pessoas que conheci e das escolhas que fiz até agora. O design gráfico tem presença fundamental no nosso cotidiano, tudo é pensado e trabalhado para que faça sentido e represente sua função de comunicar de forma eficaz. O ato de criar uma comunicação que seja reconhecida e aproveitada por todos é maravilhoso. O mais legal é que, com tudo o que aprendi fora de Baturité, posso ajudar outros indígenas e gerar uma nova rede de conhecimentos. Então, quando posso, ajudo no Centro Amazônico de Formação Indígena em Manaus, como professor de informática e ao mesmo tempo a formar novos pensadores e críticos da realidade indígena atual. Ou simplesmente criar uma referência dentro da sociedade, onde indígenas podem estar em grandes empresas e ter a mesma competência dos não-índios.
Fotos: divulgação