O humorista Paulo Vinnicius |
Marcelo Mesquita
Ele é sem dúvida um dos maiores comediantes do Brasil. Também com seus dois metros de altura, os outros são todos pequeninos perto dele. Esse é Paulo Vinnicius que desde 2008, quando fez um curso de teatro de formação básica de 10 meses na UFF, com Cecília Vaz, percebeu que com suas piadas o humor ia ser um sucesso em sua vida. Paulo foi indicado a fazer um curso de Stand up Com edy ministrado na época pelo ator e comediante Fábio Porchat, ator e redator da Rede Globo e um dos pioneiros do estilo de comédia no Rio de Janeiro. Desde então, Paulo Vinnicius não parou mais e fundou com alguns amigos o grupo Doida Comédia Stand up, que apesar de fazer humor, também faz um trabalho sério.
Duo Postal: Você ainda faz parte do Doida Comédia? Como é a convivência de vocês?
Paulo Vinnicius: Faço sim, na realidade eu sou integrante fundador do grupo. A convivência não é fácil, mas também não é ruim. Quando convidei os atuais integrantes para serem parte do grupo Doida Comédia Stand up, eu lhes entreguei a responsabilidade da sociedade. Não quero nada para mim, não quero ser dono de um grupo como a gente vê por aí. E justamente por todos terem opiniões de peso, a coisa às vezes esquenta, mas acredito que seja exatamente isso que tem feito o grupo Doida Comédia crescer com tamanha velocidade. Essa questão da convivência é muito importante de ser trabalhada, estamos sempre discutindo, mas sempre procurando nos entender porque todos os negócios passam por isso, seja uma empresa, um grupo musical ou um grupo de humor. É preciso ter maturidade para levar essa questão a sério e fazer um bom trabalho.
Duo Postal: Você também trabalha fazendo imitações?
Paulo Vinnicius: Não, infelizmente não. Eu brinco de fazer a pior imitação do Sílvio Santos ou Zé Colméia e Catatau, Fred e Barney, mas essas são vozes que qualquer pessoa consegue fazer. Eu não tenho esse dom.
Duo Postal: Quando foi que você percebeu que o estilo stand up comedy ia funcionar?
Paulo Vinnicius: Às vezes não funciona, (risos). Mas esse é o jogo. O stand up comedy é um estilo de humor muitíssimo recente no Brasil, há centenas de pessoas que entram em um teatro para assistir os melhores comediantes Stand up do Brasil sem saber exatamente o que vão assistir. Sabem apenas que é algo de humor. O sucesso desse estilo é que as pessoas de um modo geral estavam gritando por um humor mais ácido, algo mais crítico e menos besteirol. Fui indicado por uma professora de teatro a fazer um curso com Fábio Porchat sobre stand up comedy, me apaixonei, e entrei com tudo para me desenvolver nisso.
Duo Postal: O Brasil é um país que produz muitos humoristas, você se inspira em algum deles?
Paulo Vinnicius: Como eu disse o stand up comedy é muito recente, mas me inspiro muito no Fábio Porchat, Danilo Gentili, Fábio Rabin, Leo Lins entre outros.
Duo Postal: Alguns humoristas dizem que fazer rir é muito difícil, além de às vezes sofrerem certo tipo de censura. Em sua opinião, qual o maior desafio de se fazer comédia hoje em dia?
Paulo Vinnicius: As pessoas não fazem idéia de como é o processo da construção de uma piada. Muita gente ainda acha que o comediante sobe ao palco e fala sobre assuntos desordenados e de forma improvisada. Tudo é minuciosamente planejado e as piadas são testadas ao longo dos shows. No humor mais tradicional no Brasil, o comediante personagem, ou ator, recorre a piadas da internet, ou livros e fazem uma interpretação das mesmas. No stand up, cada comediante necessariamente escreve seu próprio texto. Imagine como fazer para saber se uma piada é engraçada ou não. Dar a cara a tapa. Por isso a dificuldade. O comediante stand up escreve sobre o cotidiano e faz um humor mais crítico. O grande desafio hoje é a hipocrisia de grande parte da sociedade. De não saber interpretar algo como uma piada e sim como uma ofensa. Na coluna de um site escrevi o seguinte:
“Mas piada é piada, é para fazer rir. Uma piada é um exagero, uma caricatura, e claro sempre sem ridicularizar o alvo, mas piadas são piadas e o brasileiro ainda não consegue perceber a diferença entre ser ofendido e se sentir ofendido. É preciso ser inteligente para perceber a diferença. Isso vale para gays, negros, brancos, baixos, gordos e gigantes como eu. Antes de achar que um comediante está ofendendo sua classe, sua crença, sua cor, seu sexo, tente entender a lógica da piada, sua construção e a sua licença crítica e cômica.”
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