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Foto: Divulgação |
Marcelo Mesquita
Idealizado pelos poetas Rodrigo Santos e Rômulo Narducci, inspirados pelo livro homônimo de Álvares de Azevedo, Uma Noite Na Taverna é um sucesso em São Gonçalo-RJ, tendo acontecido nos anos de 2004 e 2005 no SESC; 2006 e 2007 na Fundação de Artes de São Gonçalo e regressando em 2008 novamente ao SESC, onde acontece desde então, mantendo uma média mensal de público de 150 pessoas. As tavernas eram o ponto de encontro dos artistas na Idade Média. Ao criar um clima de taverna, com velas e penumbra, eles trazem ao público contemporâneo, a mesma magia de outrora. Essencialmente literário, o recital abre suas portas para todas as manifestações artísticas: teatro, artes plásticas, música, cinema, dança. E é neste clima que tais manifestações são apresentadas de forma a envolver o público em uma grande celebração à arte.
O Duo Postal conversou com os poetas sobre o sucesso da Taverna e entre outras coisas, a possibilidade deles estarem levando o recital de poesia para outros lugares.
Duo Postal: Quando perceberam que a poesia ia fazer parte da vida de vocês?
Rodrigo Santos: Eu percebi muito cedo lendo poesia e acho que todo mundo passa por um período que rabisca alguma coisa. Por eu gostar muito de ler, eu me interesso em ler poesia e vi nisso também uma forma de expressão.
Duo Postal: Quais foram os poetas que mais influenciaram a vida de vocês?
Rômulo Narducci: Eu comecei a ser influenciado através do teatro, quando fiz um curso de teatro, muito cedo também, por volta de uns 12 anos, e nós trabalhávamos os textos de Baudelaire, Rimbaud. Então foi aí que a poesia começou a me despertar, só que de acordo com o que você vai seguindo, você acaba se tornando poeta, ainda mais para o evento que a gente faz. Nós vamos sofrendo algumas interferências também como, por exemplo da minha parte, a geração do Baronismo, todos aqueles poetas do mal do século e uma bem pesada influência da Beat Generation, com Allen Ginsberg, Bukowisk e em alguns momentos a gente percebe que a geração que vem escrevendo hoje em dia frequenta a Taverna. Não sei se isso é influência dos nossos influenciadores que nós mostramos, ou se já é um movimento que está surgindo.
Rodrigo Santos: Eu comecei a escrever poesia por ler meu grande mestre, Álvares de Azevedo, para mim foi o cara que me norteou. Eu tive várias influências, mas a base que me influenciou foi Álvares de Azevedo. Depois que tive contato com Fernando Pessoa não mudei a temática, mas mudei a forma de escrever. Álvares de Azevedo e Fernando Pessoa me ajudaram bastante.
Duo Postal: Como vocês traduzem o sucesso da Taverna?
Rodrigo Santos: É o que a gente acredita. As pessoas gostam de arte. No Brasil, criou-se essa aura que arte é para intelectuais e não é, a arte fala para a alma e alma todo mundo tem. Nesses oito anos temos uma média de público de 150 pessoas. Já tivemos até 250 pessoas num evento, tinha gente sentada no chão para ouvir poesia. O sucesso não é nosso, o sucesso é estar viabilizando esse acesso à arte ao grande público.
Duo Postal: Vocês já pensaram em sair por outras cidades em turnê, levando a Taverna?
Rômulo Narducci: Estamos pensando sim, e percebemos que a cidade de São Gonçalo (RJ), está ficando pequena. Já tivemos propostas, a gente está analisando e vamos entrar em contato para poder ver essa questão.
Rodrigo Santos: A gente roda muito em evento de poesia também e o que a gente vê, seja na Zona Sul, ou em Icaraí, são eventos de arte para artista. A arte é popular sim, ela não precisa ser popularesca, não precisa diluir isso para mostrar ao público. A gente quer levar para outros lugares justamente essa ideia, de quebrar essa hegemonia intelectualóide que existe no Brasil, na arte em geral, seja na música, poesia e por aí vai.
Duo Postal: Sobre a valorização da leitura, como você vê o jovem de hoje em dia, que prefere ficar horas na internet ao invés de ler um livro.
Rodrigo Santos: Eu acho que o problema não é a internet. Eu acho que tem que quebrar esse paradigma para o jovem, é conseguir mostrar para ele que dentro do livro, ele vai se divertir, ele vai aprender, não é só aquela coisa pedagógica. É mostrar para o jovem a importância e o prazer dele
em ler. O problema não é o meio, o problema é como o meio é utilizado.
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Os tavernistas Rômulo Narducci e Rodrigo Santos |
Finalizamos com uma estrofe de uma das poesias de Álvares de Azevedo:
“Quantos encantos sonhados
Sinto estremecer velados
Por teu cândido vestido!
Sem ver teu seio, donzela,
Suas delícias revela
O poeta embevecido!”
Foto: Marcelo Mesquita