sábado, 30 de abril de 2011

Antigas telas de cinema fazem falta em Niterói-RJ

Fernando Figueiredo

Berço de uma faculdade de cinema, uma das mais importantes do Brasil, Niterói, que já chegou a ter até 15 salas de exibição, possui, atualmente, apenas duas no Centro da cidade para toda a população. O que é muito pouco para atender à demanda local.
Por ter como característica exibir filmes de fora do circuito, o cineclube pode no primeiro momento não agradar a todos, principalmente, aqueles que nunca estiveram em um antes. Assim, o faz esbarrar em alguns obstáculos.
Entretanto, passada a estranheza inicial, que tudo que é novo provoca, o cineclube se revela muito importante para o desenvolvimento, tanto pessoal quanto no âmbito acadêmico. Outro caso bem sucedido desse tipo de projeto de cineclube é o próprio Cine Arte UFF, que surgiu como um espaço privilegiado para a exibição de filmes considerados alternativos, para a programação de mostras com a filmografia de importantes diretores, para ciclos temáticos e debates, e hoje é uma sala de cinema.
Outros destaques são as mostras promovidas pela Aliança Francesa, pela Cinemateca do Consulado da França, pelo Cineclube Sala Escura (dedicado aos clássicos) e pelo Nictheroy (especializado em curtas), além dos festivais Arariboia Cine e Festival Brasileiro de Cinema Universitário. O agradável clima de passear por Niterói, procurando filmes que passavam em cinemas de rua, já não existe mais.
No Cine Mandaro, as cortinas se abriam sempre ao som de Moonlight Serenade (Glenn Miller). O Cinema Icaraí, a última década ainda pôde ver antes de ser friamente destombado. O Cine Cassino e o Cine Grill funcionavam no atual prédio da reitoria da UFF. O Cinema Central deu lugar ao Bingo Central. O Cine Odeon, o Cinema Éden e o Cinema Imperial, no centro de Niterói, deram lugar a comércios, assim como, o Cine São Jorge e o Cine Alameda, no Fonseca. O Cine Propaganda Fluminense era mantido pelos anunciantes que divulgavam suas empresas no jipe em que era montado a tela. Era um cinema móvel que levava muita alegria às ruas e passava cada dia em um local. Esses, entre outros, deixaram saudades para os moradores de Niterói.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Quando a sucata se transforma em instrumento musical

Marcelo Mesquita

Com um trabalho que não é somente visual e sim sonoro e performático, o Sucateando dá valor à sucata transformando-a em instrumento musical. A metodologia é simples, o material é de fácil acesso e não exclui pessoas de nenhuma faixa etária e nem classe social.
            O Duo Postal conversou com Marco Antônio, criador do Sucateando que nos contou um pouco do trabalho que realiza. Além da Oficina do Pensamento Criativo que usa habilidades criativas como forma de expressão, Marco ainda tem um grupo musical chamado Bufuý e atualmente vem realizando várias atividades na área da arte e cultura, todos voltados para o uso da sucata como instrumentos musicais.

Duo Postal: Como começou a idéia de fazer a Oficina do Pensamento Criativo?

Marco Antônio: Eu venho pesquisando vários materiais o tempo inteiro e aí num dia eu me deparei com uns sacos plásticos e percebi que eles têm bastantes possibilidades e o legal é que você pode fazer música com um objeto desses. E quando você se utiliza desses materiais e os transforma em brinquedo e em música, é bem estimulante, e eu uno a criatividade com a linguagem ambiental, e daí surgem novas ideias.

Duo Postal: Como é o processo de montagem dos instrumentos?

Marco Antônio: Eu vou guardando vários materiais. Eu encontro o material, me encanto com a forma dele e a partir daí vou explorando os sons desses materiais, porque quando eu me aposso de um material, eu penso que ele sendo transformado em instrumento, eu consigo encantar o público. Quando as pessoas percebem que é um material que está próximo delas e elas não usam, então elas percebem que a gente tem muita possibilidade de criação. Ninguém para pra perceber as coisas que estão a nossa volta.

Duo Postal: Que tipo de objeto é mais utilizado?

Marco Antônio: É independente. Acho que vai tudo no momento, tem época que estou curtindo muito os plásticos, tem momento que vejo madeira pela rua e fico louco, ou passo e vejo um lustre, é casual. Não fico pensando muito, é o que aparece.

Duo Postal: E quando o instrumento está pronto, que tipo de ritmo você toca?

Marco Antônio: Eu procuro explorar todos os ritmos e as possibilidades. Às vezes pego a técnica de um instrumento indiano e aplico num objeto que não tem nada a ver e faço uma mistura cultural.

Duo Postal: Você já se apresentou fora do Brasil?

Marco Antônio: Já estive na Europa, Ásia e no Oriente Médio.

Duo Postal: Como o pessoal dessas regiões absorveram o seu trabalho?

Marco Antônio: No início é bem estranho porque são cultura e comportamentos diferentes. No momento que vão entendendo qual é a proposta do trabalho, eles vão ficando encantados porque percebem que eles têm muitas possibilidades de recursos pra desenvolver o mesmo trabalho, e isso é legal porque não limita em momento nenhum. Temos uma sensação bem bacana, é uma abertura bem boa nos países que desenvolvemos nosso trabalho. Por ter um lado musical de muito suingue como é o Brasil, a gente aqui tem muito ritmo, e cada vez mais encanta porque levamos a rica cultura brasileira pra lá, e quando você mostra um instrumento que é feito de sucata, é diferente, porque tem um encantamento.


  Marco Antônio finaliza: “A sucata é rica porque a gente pode tocar com a mão, com cabo de madeira, ferro ou plástico e ele vai tendo resultados sonoros diferentes e é um material resistente. O tempo todo transformamos os objetos sonoramente, estamos interferindo nele de maneiras diversas”. E completa, “o legal é estar sempre em transformação”.
Fotos: Marcelo Mesquita

terça-feira, 12 de abril de 2011

Especialista minimiza papel das redes sociais nos protestos na Líbia

Pesquisador da UFRJ afirma que reais causas derivam da pobreza no país

Gabrielle Fernandes
Alto desemprego, elevado preço dos alimentos e importação da maior parte dos bens necessários ao abastecimento. Esses foram os principais problemas que levaram os líbios do Leste do país a iniciar uma onda de protestos em fevereiro que se espalhou por toda a Líbia, acompanhando os movimentos revoltosos no Egito e na Tunísia, que lutam por liberdade desde o ano passado. As cidades de Benghazi, segunda maior do país e epicentro dos protestos, Tobruk e Derna, região onde a popularidade do ditador Muammar Kadhafi é mais baixa, foram tomadas por oposicionistas. Mas cidades mais próximas à capital Trípoli, como Minsratah e Zawiya, também ficaram sob controle dos rebeldes.
No governo desde 1969, Kadhafi disse que só deixará o comando do país morto. Os protestos contra o regime e a violenta repressão às manifestações provocou milhares de mortes e levou a situação a uma guerra civil.
Leonardo Valente, professor de Relações Internacionais (RI) da UFRJ, afirmou que essas revoltas, sem dúvida, acontecem por contágio em um movimento em que os meios de comunicação contribuem tecnicamente para isso. “Mas as semelhanças são somente essas. Cada país tem uma dinâmica política interna própria e sua maneira de lidar com o que está acontecendo”, explica ele.
As redes sociais e instrumentos de comunicação, por meio dos quais os manifestantes marcaram pontos de confronto, contribuíram muito para a explosão, mas Valente acredita que é exagero dizer que essas são revoluções provocadas pelas redes sociais. “Não são elas as causadoras desses processos, apenas contribuem”, complementa o professor.
O violento e repressivo ditador, no poder há quase 42 anos, serviu para tirar o país do isolamento diplomático, na última década. Depois de apoiar grupos de terroristas em 1980 e de assumir a responsabilidade pelo ataque ao voo da PanAm, que explodiu na Escócia, Kadhafi pagou indenizações aos familiares das vítimas e foi tirado da relação de países com ligações terroristas. Em 2008, a ONU aceitou a participação da Líbia no Conselho de Segurança e, em 2010, foi eleita para o Conselho de Direitos Humanos.
O fim desse isolamento diplomático impulsionou a economia do país, atraindo investidores estrangeiros. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia da Líbia cresceu 10,6% ano passado. Mas essa riqueza não está chegando à população. Cerca de um terço dos líbios vive na pobreza. Esse é o histórico para a explosão da atual guerra civil.
Diversos países, liderados pela OTAN, começaram a protestar e a exigir a saída imediata de Kadhafi. Em meados de março, o Conselho de Segurança da ONU exigiu um “cessar-fogo” e autorizou o uso de forças militares contra o regime líbio. O professor Leonardo Valente disse ainda que é improvável que a revolta árabe se torne uma guerra mundial.
Segundo Valente, Kadhafi está perdendo as forças e a Itália é o país mais propício a dar asilo político ao ditador. “Qualquer país tem condição de asilar Kadhafi. Mas, para alguns, não seria interessante isso acontecer. No caso do Brasil, por exemplo, não seria. E creio que o governo brasileiro compartilha desse mesmo pensamento. Também creio ser pouco provável que o Brasil seja acionado neste sentido. Se for concedido asilo a Kadhafi, isso deve ser feito por algum país africano, da Liga Árabe, ou até mesmo a Itália, que já cogitou esta hipótese“, explica ele.
Os processos de revolução nos países árabes, até mesmo no Egito, ainda são muito recentes para afirmar que resultarão em futuras democracias. “Talvez o país mais perto disso seja o Egito, mas, até neste caso, é cedo para afirmar categoricamente”, opina Leonardo, já que entre derrubar Kadhafi e implantar um governo democrático há uma grande distância.

sábado, 2 de abril de 2011

Luta de José Alencar contra câncer chega ao fim

Natássia Lima

            Após uma série de internações e uma constante batalha contra o câncer, o ex-vice-presidente, José Alencar, morreu na tarde de 29 de abril de 2011, como um grande exemplo e estímulo para muitas pessoas que enfrentam essa terrível doença.
            O câncer é uma das doenças que mais mata no Brasil, justamente porque o diagnóstico costuma ser tardio. Mas esse não foi o caso de José Alencar, pois foi num exame de rotina que ele descobriu os primeiros tumores malignos, ainda em 1997. O rim direito e dois terços do estômago foram retirados. Cinco anos depois, outro tumor foi constatado, dessa vez na próstata, que foi removida. Em julho de 2006, um sarcoma, um tumor maligno, apareceu no abdômen. Apesar de removido ele voltou quatro meses depois.
            Em 2007, o ex-vice-presidente foi operado novamente. Mais um ano e o sarcoma voltou a se formar. Pela oitava vez, José Alencar foi para uma mesa de cirurgia. Em 2009, novos exames revelaram que o tumor continuava crescendo no abdômen. A alternativa apresentada pelos médicos foi uma cirurgia radical e bastante complexa, a mais longa e difícil de sua vida. Os últimos anos foram de internações seguidas, mas apenas paliativas, pois não havia muito que ser feito.
            Apesar de tudo o que enfrentou, José Alencar nunca se deixou esmorecer. Pessoas que conviveram com ele afirmam que, devido às circunstâncias, muitas das vezes era ele quem dava apoio e palavras de incentivo aos que estavam a sua volta e chegou a declarar numa entrevista: “Eu não tenho medo da morte, tenho medo da desonra. A morte é um fenômeno natural. Assim como você nasce, você vai morrer um dia, e não temos que ficar pensando nisso de forma alguma. E você vai viver o tempo que Deus quiser que você viva”.